domingo, 28 de novembro de 2021

Hiância

O vermelho
De uma carne trêmula
Treme íntimo o desejo
Tateador e aflito
Em sua hiância
De pouso
De voô

A pele
Suporte fino do toque
Cede aos poros o estremecimento
Ao que em si geme
O anúncio de outros tempos
Tempos verbais
Outros

Entre-tempos
O desejo nos olha
Entre-tempos
O desejo nos olha?

Arar um nome

Chamo teu nome
Será que chamo pelo teu nome próprio?

Ao que não existe
A convocação
A dar a existência

Sob os contornos finos
Anunciam-se tipografias
Traços e marcas
As origens do mundo

Nomes, sobrenomes, heterônimos, codinomes ou nomes a espera de uma lacuna?

Um nome-chão para se sustentar
Terreno baldio
O vazio para arar

Pós-Scriptum

Há sempre um pós-escrito
Um resto de memória
A se dizer

Não se diz tudo
Por isso insiste,
A nossa fala
A nossa falta

Avisto os destroços que se movem
Como podem caminhar ante a perda?

Reticências começam e terminam
Breves histórias
Que alongamos 

Em viver