quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O andar do bêbado

Atravessou a rua que o atravessava
Em passos largos, cruzava seu passado


O céu sob a cabeça
O legado sob os pés


Sua pureza era sadia
Orquestrava melancolia; 
Seu ocaso.


Mal disse os olhos uma gota
De saudade, de conhaque


Em seu ventre paria o abismo
Desse solo não pertencente


O finito não vingou
O pressagio sustentou:


Ai moram todos nossos demônios.





segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Imerso legado


E quando ele se foi                                                                        
Branco se fez o papel
Destecido os  horizontes daquela mulher
Da janela avistou murchas as flores
O horizonte em desencanto
Da chaminé somente as cinzas
O vazio transbordou
Tudo que cala aquele opaco olhar


Bebeu mais um gole
E no deserto encontrou torcidas gotas
A tempestade inundou a lucidez rasa


Num trago inspirou toda fantasia que lhe aspirava
Para iludir toda a ilusão que lhe restava
Galgando o legado, esse, de sua ressaca
O alimentou, como se o próprio intitulasse sua calmaria
E  Acreditou dar vida
Há todo imenso que dormia..






Por,
 Clara Lobo e Luizinho Alves.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"Escreve-se sempre para dar a vida, para liberar a vida aí onde ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga"


Deleuze

domingo, 18 de setembro de 2011

Há Menos Trezentos e Sessenta Graus

(...)

O minuto,
Passa,
O ponteiro roda,
O mundo cíclico,

O inverso,
Converte,
O tempo transforma,
O mundo muda ordem,
É o tempo,
Invalidade,

Sem prazo.

(...)



Clara Lobo

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livre em Condição

Pássaros no céu,                                     
Homens na terra,

Mente no céu,
Pés na terra,

Pássaros em vôo vivem no solo,
Homens na terra vivem aéreos,

A gente pensa ter liberdade pra chegar aonde queremos,
A gente se prende em liberdades todo o tempo,

Vivemos em mito,
Vivemos entre a garganta e o grito,

É tempo do quase,
É tempo do dito,

Somos nossos autores,
Condicionalmente,
Veredicto.




Clara Lobo

sábado, 14 de maio de 2011

IN VERSUS

De dia,
Faz dia,
De noite,
Faz noite,
De tarde,
Faz metade,
Do Infinito que nos resta,


Mistério.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Boca Breve

Não sabes, Clara, que pena
eu teria se — morena
tu fosses em vez de clara!                         Talvez... quem sabe... não digo...
mas refletindo comigo
talvez nem tanto te amara!

A tua cor é mimosa,
brilha mais da face a rosa
tem mais graça a boca breve.
O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

A morena é predileta,
mas a clara é do poeta:
assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra,
mas a morena é da terra
enquanto a clara é dos anjos!

Mulher morena é ardente:
prende o amante demente
nos fios do seu cabelo;
— A clara é sempre mais fria,
mas dá-me licença um dia
que eu vou arder no teu gelo!

A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!


Casimiro de Abreu 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

As margens da vida

Já nasci atrasada
Perco os compassos dos meus passos
E no compasso dessa vida eu ando perdida
A deriva de mim, derivo do que busco
E não do que encontro
Incessante solidão
Medida para minha contradição.


O que em mim mais se contradiz?
Bússola
Tatuo no corpo razão
Mas afeto na vida e sou afetada 
A margem do rio existe um outro lado,
A margem de mim mesma.


A deriva assisto o roteiro da minha vida
Passar em preto e branco
De fora sem protagonizar,
Deixando correr não só a vida
Deixo livre o tempo..


Há tempo
Não me pertenço.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Me convonco a bordo
A profundidade é o transbordamento
De ressaca não só o mar
Significante é o deslocamento.