quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Na tessitura do querer
Repousam meus anseios

Devaneio esse estrangeiro

Que se lança peito aberto
Pra montanha russa do viver

A ficção
Transfigura o olho que revê

O inconsciente
Repousar para além do que se vê







quarta-feira, 27 de setembro de 2017

SANGUE

A cada período fértil
Me convenço do incapturável desejo
Que há no fluxo dos acontecimentos

A MULHER É O REAL

Um batom vermelho
Remete a boca
De uma mulher

Uma mulher
Um vinho
Um olhar

O semblante de uma mulher
É como um abismo
 
Eu posso ver
Mas não posso tocar

Pássaros

O artista
Há de ser alguém alegre
Ou triste
Há de vestir-se dos extremos
Para dar oxigênio
A uma sociedade 
Que não se tornou voar

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Protesto

Engole essa língua
Que te ensinou a soletrar preconceitos
Se engasgue dessa arrogância intelectual
Disfarçada de Igualdade

Medo eu tenho dessa burguesia folclórica
Que desfila achismos 
Que se veste de vanguarda
Mas na prática 
Levanta bandeira:
 Por uma Sexualidade Binária

Eu tenho nojo de disfarces
Se apresente como é
Porque na hora que o mata a mata começar

Eu quero ver
Se é o teu corpo 
Que protestará




Gaia Guerrilha

Descolonizar os corpos
Que repousam sobre os nossos
Que pulsam nosso medo

Estupram nossos ímpetos
De tornar universal  uma coisa chamada desejo

Que a poesia selvagem
Nos salve desse binarismo
Escravo da linguagem
Que nos engaveta 
Pro massacre

Que ela possa nos servir
Como uma flecha
Que grita 
Que resiste
Que milita
Que vive

Que acerta o alvo
Da diferença





Anunciação

As palavras não tem véu
São como são
As pintamos do nosso sentido
As subtraímos na gramática
Transbordam ao tocá-las
Despida palavra,
A corpo nu
 Te inscrevo


domingo, 24 de setembro de 2017

Lacuna

Minha bolsa de expectativas
Anda cheia de faltas
A cada esquina
Desencontros me passeiam
Quero uma agenda para marcar um encontro comigo mesma
Tirar a limpo o que me toca e eu não canto
A pauta será tornar literal o indizível
Entregar ao sonoro o vívido
Fazer das palavras que me fogem uma espécie de hino

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

TELEFONE

Sua voz
Sussurra um antigo som que ecoa
No meu despertar

Um telefone sem fio
Modos diferentes de tratar
Uma linguagem em comum
Comunhão particular

Como lidar
Com o que não cabe falar
Com aquilo que é.. 
Pra já..
Com o que não pode esperar

Com o que vem alarmar
Que aquilo que contêm vida
Não pode tardar



MARÍTMO

Um barco
Um mar
Não sei se vou
Ou se fico

Uma lembrança
Um oceano
Há em mim o que permanece
Outro de mim que se aprofunda

Um eu
Um continente
Barcos de papel a flutuar
É de ancorar desejos
O mergulhar
Pra se encontrar

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Volta ao sol

O ano passa sobre mim
Eu passo sobre ele
Esse tal de Ano novo 
Não me comanda nada
Pra um eu nascer
Abro as Ancas
Gemo
Faço parir:
Uma data fecundada

É de ser

Escrevo com os punhos
Debruço-me sobre o vazio
E o imenso 
Dos verbos sentidos 
Conjugando
O que fui
Existo no imprevisível
 

Oceano

Como tornar palavra
Aquilo que escapa?
É preciso metaforizar o indizível
Qual é o destino
 Dos olhares que não se chocaram?

No paradoxo mora
A linguagem inconsciente da vida
O impróprio da existência
É o que de mais próprio podemos nos encontrar
Lançar de conchas
Sobre o mar

Tic Tac

Pelo meu coração circulam
Os ponteiros do relógio
Temporalizando sentimentos invisíveis
Tatuam em minha carne
Memórias que não tive
Mas que insistem em pulsar
Sobre aquilo
Que em mim 
Insiste

Anonimato

Eu, pseudônimo de mim, você é?
É por incidência que eu sou eu
Eu sou o acaso do que está dado
Pertenço a um mundo que me foi enraizado
Mas que não me deu mais notícias
Intrínseco martelo
 Martela-me os compassos da vida
Para que ciclo vou, se o que se interrompeu ultrapassa o meu eu?
Busco respostas em meu inconsciente
Pra sair da decrescente
Os meus tatuadores simbolizam melhor meu imaginário do que eu
Para que destino vou se eles subscrevem meu consciente com mais formas do que eu?
Entro em convulsão com o mundo
Fico aberta a consequências
Então pergunto do meu submundo à minha consciência:
Responderei minha anônima presença?

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Vir a ser

Os transformistas tem a fúria
De subverter
O que os cristaliza
A um ideal
De cunho moralista

É preciso mais
Transbordamento
No lidar com um mundo
Que tole pertencimentos


Tornar

Pra um eu nascer
Basta ócio
Se deixar vir a tona
Daquilo que desassossega
No buraco
Que nos cega

Memória

Marisa Monte
Registro íntimo
Memórias de uma meninez
Nascimento de um romance
Pessoal e anônimo
Ínfimo 
Do que repousa vívido
Intransferível

!!!

Um lugar
Não é algo que se dá
É algo que se crava
com os dentes
do desejo

Ser Com

O atravessamento
É do encontro
De almas 
Dispostas
A colocar em jogo
Sua existência

Escuta

Há dias
Que escutar o outro
Se parece como uma folha
Rasgada 
Ao meio

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

VÍSCERA

A paixão
São meus poros
Sangrando
 Poesia

Lenço

A beleza de um homem
 Existe na malícia
Os acordes de um violão
O manuseio de um livro
Compor um corpo
Tocar o que pulsa
Agarrar as vísceras
O Intangível 
De alma vadia

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

ALMA

Um verso mudo
É como um pensamento que não ousou se tornar palavra
Um sujeito não composto
Um paraíso sem maçã
Um homem sem um verso
É como um frasco de perfume
Onde a essência evaporou




LUPA


Quero crua
A saliva da vida
Que circula feito redemoinho sobre meu corpo
Quanto mais rebaixada
Mais na superfície pareço tocar
Como se habitar pelos detalhes
Fosse morar nos olhos do mundo

PASSOS

Ás vezes tropeço na calçada do outro
Aquela calçada não é minha
Um caminho a mais me parece um convite
Para desvirtuar um caminho que é o meu
Entre a calçada alheia e a calçada que me pertence
Existe um Eco
Feito da curiosidade que engrena a vida
Esse outro mora em mim
Traz correspondências de um alguém que já morreu
Quer me lembrar que coexisto no instante
Como se esquecer fosse o imperativo da vida

terça-feira, 12 de setembro de 2017


CRU

Pra ser poeta precisa viver a intensidade dos acontecimentos. Não se nasce poeta, se vive poeta. Em cada esquina a poesia está ali escondida, esperando ser encontrada. É preciso descobrir os véus, dos acasos. Na poesia mora o risco, de se descortinar do receio, sentir ela rasgar tua psicose por inteiro.

POESIA DO AMOR REAL

É dessa vida que pertencem meus mais intensos beijos. É dessa vida que o toque de dois corpos se põe em cima da mesa para serem degustados. É dessa vida a intensidade de um encontro, fictício e real, inventados cada segundo como se o terceiro da história fosse esse amor inventado. É dessa vida a poesia visual que é o seu corpo. É dessa vida o buraco do seu peito que eu insisto em repousar. É dessa vida teu cheiro misturado com o meu. É dessa vida tuas palavras caladas confundidas com meu excesso. É dessa vida tuas ações, as belas, as livres. Homem que ri com os olhos. É nessa vida que passarei escrevendo no teu corpo e no meu a poesia do encontro. Embriagada acordo no teu paladar, tem gosto de vida. Esse terceiro anarquista, esse terceiro ainda me cura, desse ímpeto maldito de querer colocar em palavras o que não tem palavra. Em ato esse terceiro incendeia o palito de fósforo que você deixou em mim.

Notícias

Recentemente tenho dado muitas notícias, envio cartas a mim mesma. Por vezes ando pelas ruas e me pergunto onde meus passos querem chegar. São tantos acontecimentos que fico inebriada neles. As vezes me sinto uma espécie de bruxa, tenho um farol dentro do meu peito que me diz que o que eu escolher dará certo. Tudo é uma questão de perspectiva. E não guardo na bolsa muitas queixas, porque a vida sabe ser muito generosa. Carrego um patuá chamado Sorte. Acaso. Conexão. Até onde quero ir? Tenho problemas em ter que escolher. Minha mãe sempre disse que não tenho limites. Ela tem razão. Isso eu deixo como tarefa da vida. Ir impondo o tempo das coisas. Eu vou no fluxo, os meus sentimentos não tem bordas, pautas, nem margens. Extrapolo qualquer demarcação. E não é que há quem se incomode? Vai entender, mente do outro é um treco estranho, sem sentido a falta de coragem que as pessoas tem para lidar com o novo, é tão mais fácil habitar o comum. O comum não me atrai, É difícil, bancar as minhas escolhas, mas as banco, tudo que opto é o mais difícil, acho que sou tentada a uma dificuldade. Saudade de um tempo. Um tempo de repouso, em que gastava mais tempo com meus pensamentos e leituras do que com o outro. Sempre gostei da solidão. Solidão e natureza se aproximam da minha história. Solidão não é esvaziamento, é encontro consigo mesmo. As coisas pra mim já nasceram invertidas. Sou filha de pais subversivos. Tenho sorte. Já nasci do ponto até onde eles chegaram. Nome não se escolhe, nome se recebe. Lugar se trilha e constrói. Tenho construído, minha narrativa, meu lugar e a possibilidade de um caminho. Sempre fui corajosa, até para quebrar a cara e começar tudo de novo. As pessoas corajosas me causam. É delas que eu gosto. Elas me arrepiam. Me excitam. Tem tempo que não me encontro com minha solidão, perdi um lugar, engraçado essa coisa de perder um lugar, os lugares são subjetivos e não físicos, mas como nasci invertida, perdi um lugar físico que levou junto o meu singular. Havia tanta coisa ali naquele solo. Eu sinto falta de acordar com o barulho da natureza e com novos baianos tocando. Sinto falta de andar descalça, de sentir cheiro de ar puro, de tomar chá de capim limão, de ver as luzes do dia em vários ângulos, de ter uma conexão com os rios como se eles conversassem comigo. Eu sinto falta, quem preencherá essa falta? Será por isso esse desejo louco e incessante de estar sempre ativa? Vai saber... Sempre fui hiperativa. Não deve ser isso. Deve ser  essa pulsão dentro de mim que precisa de intensidade. Tem horas que não quero saber de nada, nem de ninguém. As vezes é bom se esquecer dos outros e de si mesmo, só por alguns segundos. O próximo instante já se instala com demandas, as maiores demandas que tenho não são minhas. Que escolha louca essa de ser cuidador do outro. Que pretensão nos colocarmos como objeto pro cuidado do outro. É preciso ser honesto quando se banca uma escolha dessa. É preciso ser total. Vai doer, mas vai ser visceral. Escolheria novamente. Escutando o outro, crio brechas para poder escutar a forasteira que há em mim. Sigo faltando, flanando e reverberando.

VOCÊ ME LÊ?

Me sinto nua na tua presença
Como se a cada vírgula que eu desse
Você me localizasse em cada palavra

Meu corpo é uma máquina de produzir intensidade
Como capturar o desejo que me falta?
Deixe comigo esse olhar
Que descarto na primeira trepada


Uma tesoura
É isso que os homens querem
Para castrar meus ímpetos
Dessa moral derramada de seus olhos

Quer me comer
Mas o seu tamanho se compara
A pequenez de um escorpião
Deguste meus sinais
Come com os olhos
Já que não sustenta comer
Com as palavras