segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

MANICÔMIO

 A história 

O sujeito interditado

O legado


Em rebeldia

A palavra é amordaçada

Uma camisa contra essa força


Uma pessoa

Alguns familiares

Muitos trabalhadores

Uma luta jamais perdida

 

Querem silenciar essas vozes

Querem seus corpos implodindo 

Dentro dos muros


Isso faz falar

Não há como calar

O barulho que explode

Na vida em democracia 



 




sábado, 3 de outubro de 2020

FORCA DOS NOVOS DIAS


O pulmão
Abastado
De ar
Preso

Na casa
Oxigênio falta
O gás alastrou
Os cômodos
Sufoco


A rua
A fumaça cinza

Os carros
A nova presença

Nos corpos
O presidente
Asfixiou
O presente

terça-feira, 11 de agosto de 2020

ESTORVO

 

Um contratempo

Explodiu em meu rosto

Um vulcão dentro

Jorra sua lava

O espelho me mostra

O “Isso

Que já não consigo escapar

Um buraco de angústia

Ela que me persegue

Ela que eu não queria ver

Ela que eu não queria saber

Ela que agora

Escancara-se a mim

A outros olhos

Que me olham nela

A expurgo ou permito que saia em seu tempo?

Decido tocá-la

Faço força

Para que saia do meu olhar

A encaro tete à tete

Ela não sucumbe à pressão

Cresce maior

Percebo que ali algo persiste

Algo logo ali

Contém o mundo

Que sinto

Eu sinto

Por me sentir assim

Tudo sente aqui

Latente

Um quase tudo que não impele

Hoje em dia ela dá

Dá as caras

E se mostra

Para fora

Por

Um contratempo

Que anda

Explodindo

O meu corpo

quarta-feira, 22 de julho de 2020

OBSCURO OBJETO DO DESEJO

Atrás
Dos passos
Marcados na areia
Diluem-se

Busco
A captura daquela cena
Decomposta
Pelo tempo

São restos de memória
Meus
Que a terra
Come

O quadro com bordas
De vazio dentro

Escavo a imagem
De seu pertencimento

Toco o fio
Que não posso ver
O que vejo
Me
Escapa

A incessante
Procura
Daquilo
Que nunca
Poderá
Ser
Encontrado

CORRENTE



Meu avô
Moreno, era como o chamavam
Meu avô tinha mania de limpeza
Emprestava seu corpo
Negro
E com as mãos
Esfregava
Os vasos, os vidros, o chão
Queriam dele
Tudo branco
Ele apagava as marcas

Meu pai
Pantera, é como o chamam
Meu pai sempre teve mania de conserto
Para cada convicção enferrujada
Uma ferramenta
Para polir asperezas

Ele desoxida camadas ultrapassadas
Não guarda nada
Faz funcionar

Aos carros emperrados
Rodas que deslizam
Pelas quebradas
Pela monotonia
Pelos concretos da vida

Sua oficina
Uma máquina de potencializar
Presença

Com um aprendi a não remover as memórias
Com outro aprendi  a consertar a afonia

Meu pai é verbo de ligação
Às vezes também me faltam molas
Mas eu não emperro
Porque ele me ensinou
Que quando estou em movimento
Minha palavra é chave

segunda-feira, 18 de maio de 2020

NERVURA


Por toda parte

Veias vermelhas

À procura de bifurcações

 

As lâminas da vida

Fatiam agora

Desejos antes

Interrompidos

 

Sobre ruas concretas

Seios abertos

Invadem

Certezas Amórficas

FLOREIO



Desemboto feito flor 

Que é quando

Me abro

Para aquilo

Que

 Me olha

APETITE




Tenho fome
Da fome

Que fome a vida
Faz

Faz a vida da fome
Devorar-me

Quando apenas queria
A
Ser causa



O desejo é uma companhia
Que nunca viaja




O trem passa
Nos transpassamos
As memórias convocam
A viagem

Estar sozinho
Totalidade da paisagem
Sob os trilhos
Onde tudo
É

Há um hiato
No deslocamento
Que anda por si