O vermelho
De uma carne trêmula
Treme íntimo o desejo
Tateador e aflito
Em sua hiância
De pouso
De voô
A pele
Suporte fino do toque
Cede aos poros o estremecimento
Ao que em si geme
O anúncio de outros tempos
Tempos verbais
Outros
Entre-tempos
O desejo nos olha
Entre-tempos
O desejo nos olha?
domingo, 28 de novembro de 2021
Hiância
Arar um nome
Chamo teu nome
Será que chamo pelo teu nome próprio?
Ao que não existe
A convocação
A dar a existência
Sob os contornos finos
Anunciam-se tipografias
Traços e marcas
As origens do mundo
Nomes, sobrenomes, heterônimos, codinomes ou nomes a espera de uma lacuna?
Um nome-chão para se sustentar
Terreno baldio
O vazio para arar
Pós-Scriptum
Há sempre um pós-escrito
Um resto de memória
A se dizer
Não se diz tudo
Por isso insiste,
A nossa fala
A nossa falta
Avisto os destroços que se movem
Como podem caminhar ante a perda?
Reticências começam e terminam
Breves histórias
Que alongamos
Em viver
sábado, 18 de setembro de 2021
Ancestrais
Faço de mim
Uma palavra
Que me antecede
Antes de meu nascimento
Fui me tornando
Verbo
Letra
Símbolo
Das línguas
Que me falavam
De minhas ancestrais
Sou frase inteira
E também lacunas
Percorridas
Pelos tambores do tempo
Vivo no hoje a escritura
Do que fui e estou sendo
Ando em travessia
E ergo
Essas muitas vozes
Adentro
quinta-feira, 16 de setembro de 2021
ASAS PARTIDAS
Minhas Asas
Umedecidas batidas partidas cortadas pela vida
Lâminas que eu mesma afiei
Em fatias o tempo
Entra em uma latência
E me despedaça
Desejos vorazes de impermanência
Onde se demorar?
Onde não há ar?
A boca assopra forte
Um vendaval espana tudo que é imóvel e morto
Subvertem-se pápeis, folhas, direções
Não há o que norteie o novo
É grito, é choro, é reza, é vela, é foice, é móvel, é força
Ah companheiro
Somos mulheres do terceiro mundo
E por vezes o binário nos escapa
O ventre é nosso triunfo
A navalhadas
Estamos sendo o que mais tememos
E descobrimos que o que mais tememos
É ter medo de não sermos
O que podemos ser
Quando estamos sendo
sábado, 21 de agosto de 2021
MÁTRIA CIDADE
Meu corpo cidade
Tem linhas, setas e horizontes
Arariboia, pontes e mar
Meu corpo metáfora
Anuncia em sua pele todas as marcas
Polifonicas oriundas desse lugar
Meu corpo beira
Os contornos desse vasto mundo
Que em mim se estendem
Elastificando suas moradas
Aos que pousam
Meu corpo fenda
Abre as divisas dessa cidade Mátria
De onde engendram
Os verbos da vida