segunda-feira, 27 de abril de 2020

Escoar


Os pensamentos vão e vem
Os dias correm sem parar
Meus sentimentos saltam por entre os dedos
Não consigo encontrar a palavra
Ela anda perdida em mim
Ela anda
Desliza pelo meu corpo
Tenho gosto por palavra escorrida
Palavra escorrida é palavra viva
Gosto de palavra fora da caixa
Aprendo com elas
Tenho aprendido a desprender
Razão é palavra asfixiada
Palavra em voo
É palavra líquida

sexta-feira, 24 de abril de 2020

É TEMPO



O abril silencioso
Despedaça suas pétalas
Para aqueles que amam
Os desejos foram eternamente adiados

As memórias caem
Como aquele corpo
Que cai

Não saberemos até quando
Nos sentiremos endividados
Com tudo aquilo que bate a nossa porta
E não permitimos
Que nos faça tocar

É o tempo
Em que estamos à procura
Do tempo
Perdido

As ruas ainda estão sem saída
Para a infância dos nossos maiores sonhos

Que lugar dar aquilo que não tem cabimento?
Nossos corpos foram rompidos 
Ao encontro

E tudo aquilo
Que por muito
Acreditamos serem asas
Nos apartou
De sobrevoarmos

Em bando

AS MINHAS MORADAS



Os dias caem cálidos
Há em meu peito um certo vigor
Que vem dando voz a tudo que dormia
Em um sono profundo
Que não mais se cala

Os dias acordam sempre iguais
Mas, não sou mais a mesma
Os desejos estão pulsando
Como peixes – a mar – aberto

Tirei os sonhos da cama
Eles agora estão comigo
Aonde quer que eu vá  
Estão por todos os cômodos
E por falar em casa
Escrever é a minha maior entrada

Uma máquina
MULHER
De escrever


terça-feira, 7 de abril de 2020

UM RIO QUE APOSSOU EM MIM

Sou feita de um Rio
Que perdi

Esse Rio
Passeava sobre meus cabelos
Compunha meu corpo

Cresci sob a potência
Do Rio
Inundando
Seu canto
Turvo

Esse Rio
Ainda dói em mim

Por muito
O Rio
Operou
A escuta
Das águas
Que falam
Aos nossos tambores
De ardor
De amor

O Rio seguiu
Afinando
Cada corda
Cada tom
Do desejo

Esse Rio
Ainda corre em mim


Feito redemoinho
Que retorna
À casa
Essa
Das pulsões